sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Palavra final

image%5B105%5D[1] Chegamos ao fim de uma era. O Cristianismo virou uma página e ao longo dos anos ficará cada vez mais claro o momento de transição que vivemos. O velho se vai e novo já vai tomando forma.

Francis Schaeffer representa o velho. Embora tenha de alguma forma contribuído para o surgimento do novo ele mais fez fortalecer o velho.

O velho, e roubo aqui parte do debate de Paulo Brabo no Lançamento de seu Livro "Bacia das Almas", é expresso pela mentalidade de que a fé estaria baseada num livro. Esta é a velha mentalidade, que tem como paladino FS e, em sua forma mais extrema, uma série de fundamentalistas (a maioria em continente norte americano).

Aparentemente, com a teologia liberal e tantas outras correntes que contestariam o fundamentalismo, pode-se pensar que essa mudança já havia ocorrido há mais tempo e não seria nada novo. Provavelmente foi Schleiermacher (que não é nem citado por Schaeffer) quem deu o ponta pé inicial nas mudanças. FS, todavia, se desponta (nos anos 70) como a voz do movimento evangelical para dar legitimação intelectual às crenças fundamentalistas.

Ricardo Gouvea assim expressou sua análise do livro de Schaeffer:

A intelectualidade evangélica adotou este livro como alicerce nos anos 70, para enfrentar o existencialismo, o movimento "hippie", o marxismo e a contracultura em geral. O livro convencia que o cristianismo não era incompatível com o estudo e a reflexão. É um pena que Schaeffer estivesse tão equivocado em suas idéias centrais.

Assim a mudança de era foi prorrogada. Mas chegamos até ela. Um dos principais sinais dessa mudança se viu nas eleições presidenciais americanas e a derrota da direita evangélica. Mas não é só isso.

Voltando à frase de Brabo, ele argumenta bem que não se pode fechar uma pessoa em um sistema de palavras. Ou seja, Jesus que é a verdade na qual a fé cristã se assenta, vai além das palavras do livro. Eu particularmente deduzo disso que a fé judaico-cristã não é de fato baseada num livro, mas o livro, sim, é baseado na fé judaico-cristã. Daí sua vital importância.

É lamentável que Francis Schaeffer comece por Aquino e passe por uma série de personalidades da história somente pescando desacordos e tentando apontar desatinos em suas filosofias e maneiras de ver o mundo.

Ao longo desse Blog e da leitura que fiz de "A morte da razão" pude ver que, ao contrário do que FS afirmava, cada um deles tinha alguma contribuição interessante para a fé cristã.

A tese central de Francis Schaeffer é de que a razão humana, sem o apoio da Bíblia, estaria morta. Esse teria sido o erro de Aquino, acreditar que haveria razão viva sem a Bíblia. Uma vez baseado na Bíblia poder-se-ia argumentar em termos racionais com qualquer pessoa. E era justamente essa a tarefa dos crentes frente ao desafio do homem moderno, mostrar que a fé é racional, desde que baseada na Bíblia.

Aquela tese, tão comumente aceita nas fileiras evangélicas, se mostrou todavia falha, na prática. Não só por causa do fiasco que foi George Bush. Tanto nos USA como no Brasil, proliferaram escândalos de todo tipo protagonizados por pessoas, e fundamentados racionalmente por pessoas, que tinham a Bíblia como sua única regra de fé e prática.

A fé, descrita pela própria Bíblia, muitas vezes prescinde do elemento racional. Hora ela o aceita, hora (e são muitas essas vezes) o rejeita. Daí a necessidade d'o salto' (tão combatido por FS).

A era pós-moderna chegou e trouxe com ela esse subjetivismo que permite ao indivíduo vivenciar sua fé, de acordo com os (ou além dos) limites de sua própria racionalidade. Não há como extrair do ser humano o elemento existencialista descoberto por filósofos franceses e tantos outros.

Esse é o desafio que se coloca frente à igreja cristã de nosso tempo: como se reinventar em uma lógica onde a Bíblia (e as pregações) não seja mais o centro da vida comunitária (ou da fé comunitária)?

Minha sugestão fica (contra)baseado em outro título de Francis Schaffer: "um Deus que fala". É hora da igreja recolocar a tônica no Deus dos antigos que era primordialmente "um Deus que ouve".

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

André Malraux

Malraux-Freund-1935[1] "Toda arte é uma revolta contra o destino do homem" André Malraux (1901-1976), escritor francês

André Malraux profetizou: "O século XXI será religioso ou não será."

Cada uma das grandes religiões trouxe uma noção fundamental do homem, e nosso tempo esforça-se apaixonadamente por dar forma ao fantasma que o século das maquinas colocou em seu lugar. Tanto mais apaixonadamente quanto, com os campos de exterminação, com a ameaça atômica, a sombra de Satã reapareceu sobre o mundo, ao mesmo tempo que reaparecia no homem: a psicanálise redescobre os demônios, para reintegrá-los no indivíduo. Mas, num mundo sem chave, onde o Mal se torna fundamental enigma, qualquer sacrifício, qualquer obra prima, qualquer ato de piedade ao heroísmo propõem um enigma tão fascinante quanto o do suplicio da criança inocente, obsessão de Dostoievsky: quanto o de todos os pobres olhos humanos que descortinaram uma câmara de gás antes de se fecharem para sempre: a existência do amor, da arte ou do heroísmo não é menos misteriosa que a do mal. Quiçá a aptidão do homem para concebê-los ou conservá-los invencivelmente seja um de seus "componentes”, como o é a aptidão para a inteligência: e o objetivo de nossa civilização, no âmbito do espírito, se torna, assim, depois de ter descoberto as técnicas que reintegram os demônios no homem, o de buscar as técnicas que reintegrariam nele os deuses.

Mas a reconquista da grandeza esquecida assume a forma que lhe dão os que a asseguram. É que cada nação a preserva a seu modo - e tende a agrupar-se, não com todas as outras, mas com algumas afins, em vastas áreas culturais. A nova civilização se manifestará de certo no Ocidente, não só sob sua forma russa, mas sob duas grandes formas que corresponderão, «grosso modo», as áreas católicas e protestantes. De cada uma dessas formas, do novo tipo de homem por elas suscitado, posso aqui dizer, como em Atenas: pertencerão a todos os que tiverem resolvido criá-las juntamente: o espírito não conhece nações menores, conhece apenas nações fraternas - e vencedores sem vencidos.

Eis aí onde a cultura encontra seu papel insubstituível. Pelo conhecimento, mas também por outros caminhos mais secretos. A cultura não consiste somente em conhecer Shakespeare, Victor Hugo, Rembrandt ou Bach: consiste antes de mais nada em amá-los. Não há cultura verdadeira sem comunhão, e talvez seu domínio mais profundo e mais misterioso seja a «presença», em nossa vida, do que deveria pertencer à morte. A cultura do novo mundo latino - que não é apenas o grande e velho mundo mediterrâneo, que não é somente a América Latina - será, como todas as verdadeiras culturas, uma cultura conquistada. O que ela deve conquistar para criar seu tipo de homem exemplar e para moldar seu novo passado é a presença, em seu seio, de todas as formas de arte, de amar, de grandeza e de pensamento que, no curso de milênios, sucessivamente permitiram ao homem «ser menos escravo»: o domínio que une, ao fundo de nossa memória, sob a imensa indiferença das nebulosas, as silhuetas invencíveis e outrora inimigas dos pescadores de Tiberíade e dos pastores da Arcádia... O império mais sangrento do mundo, o império assírio, deixa em nossa memória a majestade de sua «Leoa ferida»: se há uma arte dos campos de concentração, ela não exprimirá os carrascos e sim os mártires. "Ergue-te Lázaro". Não sabemos ressuscitar os corpos, mas começamos a saber ressuscitar os sonhos - e o que hoje vos propõe a França, é que, para todos nós, a cultura seja a ressurreição da nobreza do mundo.

Reconheçamos que nos une um futuro fraterno, mais ainda que um passado comum. Tivestes razão, nas mais sombrias horas, quando não desesperastes de nós, porquanto, hoje, o General De Gaulle, que encontrou todas as chagas de meu país em seu legado, reencontra, apesar dessas chagas, a linguagem secular da França, para lembrar ao mundo que “é o homem que se trata de salvar". Porque a cultura tem duas fronteiras intransponíveis: a servidão e a fome. Que nos seja dado contribuir para apagá-las, que nos seja dado construir uma civilização que se assemelhe à nossa esperança, uma civilização que coloque todas as grandes obras da humanidade ao serviço de quantos homens as reclamarem!

Haveis pronunciado aqui, Sr. Presidente da República, palavras conhecidas de muitos dentre nós:

«Deste planalto central, desta solidão que será em breve o cérebro de onde partirão as altas decisões nacionais, lanço um olhar, uma vez mais, sobre o futuro de meu país e entrevejo essa alvorada com fé inquebrantável e confiança sem limites na grandeza de seu destino».

Quando, por minha vez, contemplo este lugar que já não é uma solidão, acodem-me ao espírito as bandeiras que o general De Gaulle entregou, em 14 de julho, aos chefes dos Estados da comunidade franco-africana, e o solene cortejo de sombras dos mortos ilustres da França, que amais, porque seus nomes pertencem à generosidade do mundo. E em sua grande noite fúnebre, um murmúrio de glória acompanha o bater das forças que saúdam vossa audácia, vossa confiança e o destino do Brasil, enquanto se vai erguendo a capital da esperança.

André Malraux, ministro dos assuntos culturais da França
Brasília, 24 de Agosto de 1959

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Mas atentem para o poeta

k0600288[1] "Escutemos, por um instante, a voz dos poetas, porque ela costuma exprimir o que chamamos de “sentimento do mundo”, o sentimento da velhice e da juventude perene do mundo, da grandeza e da pequeneza dos humanos ou dos mortais."

- Marilena Chauí em "Convite à Filosofia" -

 

"What Is Philosophy? (Que é filosofia?), termina com a ressalva “ mas atentem para o poeta. Quando apela a que se dêem ouvidos ao poeta, ele não quer dizer que escutemos o teor ou conteúdo das palavras do poeta. O conteúdo não vem ao caso – poder-se-ia invocar seis poetas que se contradizem entre si. Não importa o conteúdo porque o conteúdo se acha na área da racionalidade, isto é, no andar inferior. O que é relevante é que existe coisa tal como a poesia – e esta se situa no andar superior."

- Francis Schaeffer sobre Heidegger -

 

"Mas pelo fato de a poesia, em comparação com o pensamento, estar de modo bem diverso e privilegiado a serviço da linguagem, nosso encontro que medita sobre a filosofia é necessariamente levado a discutir a relação entre pensar e poetar. Entre ambos, pensar e poetar, impera um oculto parentesco porque ambos, a serviço da linguagem, intervêm por ela e por ela se sacrificam. Entre ambos, entretanto, se abre ao mesmo tempo um abismo, pois “moram nas montanhas mais separadas”."

– Heidegger em "Que é Filosofia" -

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Dois diagnósticos: Schaeffer X Tournier

bxp200726[1] Dois escritores evangelicais de sucesso, um psiquiatra suiço morador de Genebra o outro pastor americano que viveu na Suiça, ambos falecidos na década de 80 do século passado, ambos traçaram um diagnóstico do homem moderno frente às suas tensões e crises.

O fácil diagnóstico feito por Paul Tournier (1898-1986) se destaca frebte à engenhosa construção proposta por Francis Schaeffer (1912-1984) em "a morte da razão":

“Vimos que desde Rousseau  se estabeleceu a dicotomia entre natureza e liberdade. A natureza passara a representar o determinismo,  a máquina, como o homem na desesperançosa situação de ser absorvido pela máquina. Então, no andar superior, vemos o homem lutando pela liberdade. A liberdade que era buscada era uma liberdade absoluta, sem limitações. Não existe Deus, nem mesmo um universal, a limitá-lo de sorte que o indivíduo procura expressar-se com total liberdade e, todavia, ao mesmo tempo, sente a condenação de ser absorvido na máquina. Esta é a tensão do homem moderno.”

Partindo também de conceitos filosóficos, Tournier, em Mitos e Neuroses, pondera que "o homem moderno acredita ter suprimido deste mundo os valores, a poesia, a consciência moral, mas não fez mais do que uma repressão, e por isso sofre".

Ao contrário de FS, que lamenta a negligência ou supressão da razão feita pelo homem moderno, Tournier alerta que a repressão se deu no campo emotivo e não no itelectual, e essa tende a crescer mais quando nos apegamos ainda mais à razão, à lógica em detrimento de nossos sentimentos.

Por isso são catastróficos os efeitos do neo-fundamentalismo. Por isso o grande inimigo da igreja sempre foi e será a turma do legalismo apegada a seus conceitos inflexíveis, à sua lógica quadrada e ortodoxia morta e não a de pecadores com suas contradições, metamorfoses loucas e suas transgressões de princípios éticos e estéticos pré estabelecidos.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Anthony Flew

Considerado o principal filósofo dos últimos cem anos, Antony Flew passou mais de cinqüenta defendendo o ateísmo. No entanto, ao continuar investigando o tema, ele reviu seus conceitos. Em 'Deus existe', Flew trata de suas origens e crenças iniciais e de como e por que passou a acreditar em um Deus. E, mesmo baseado em evidências científicas, ele o faz de modo que é impossível não refletirmos a respeito de nossos próprios conceitos.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Teilhard de CHARDIN

 "Aparentemente, a Terra Moderna nasceu de um movimento anti-religioso. O Homem bastando-se a si mesmo. A Razão substituindo-se à Crença. Nossa geração e as duas precedentes quase só ouviram falar de conflito entre Fé e Ciência. A tal ponto que pôde parecer, a certa altura, que esta era decididamente chamada a tomar o lugar daquela. Ora, à medida que a tensão se prolonga, é visivelmente sob uma forma muito diferente de equilíbrio – não eliminação, nem dualidade, mas síntese – que parece haver de se resolver o conflito." (Teilhard de CHARDIN, O Fenómeno Humano)

Disposto a desfazer o mal entendido entre a ciência e a religião, conseguiu ser mal visto pelos representantes de ambas.




domingo, 4 de outubro de 2009

Julian Huxley

“Sir Julian Sorell Huxley, FRS, (Londres, 22 de Junho de 188714 de Fevereiro de 1975) foi um biólogo, escritor, humanista e internacionalista britânico, conhecido por suas contribuições pela popularização da ciência através de livros e conferências. Ele foi o primeiro diretor-geral da UNESCO e foi nomeado Cavaleiro da Coroa Britânica em 1958.”

Para Francis Schaeffer ele não passou de um ateu humanista que não se importava em provar se Deus existe ou não.




sexta-feira, 25 de setembro de 2009

AS PORTAS DA PERCEPÇÃO - CEU E INFERNO - Aldous Huxley

Segundo Francis Schaeffer ninguém como Aldous Huxley influenciou de forma tão profunda uma geração para o uso de drogas.



sábado, 12 de setembro de 2009

A influência de Adouls Huxley

A obra-prima de Huxley, "Brave New World" (Admirável Mundo Novo), foi escrita durante quatro meses no ano de 1931. Os temas nela abordados remontam grande parte de suas preocupações ideológicas como a liberdade individual em detrimento ao autoritarismo do Estado.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Paul Tillich

A percepção do pensador alemão Paul Tillich (1886-1965) sobre substância católica remete à sua peculiar interpretação do sacramento como universal, o que significa que há uma universalidade do fenômeno religioso inerente ao ser humano. Neste sentido, a mente humana é um sacramento onde o divino aparece, sendo assim qualquer expressão de fé legítima por constituir uma característica própria do relacionamento entre ser humano e sua busca por um sentido último de sua existência. Aqui se configura a principal contribuição do pensamento tillichiano sobre substância católica para o diálogo interreligioso, sobretudo, quando se considera como importante todas as expressões religiosas, pois todas partem — e nascem — da mesma necessidade existencial para o encontro com o divino. Haveria, portanto, um princípio de universalidade da fé, que permite a todas as religiões serem vistas como expressões autênticas da experiência religiosa. É substância porque faz parte do conteúdo religioso. É católica porque é inerentemente universal a todas as expressões de fé.
Tillich, no entanto, alerta para o risco de uma destas religiões se pretender como única detentora da revelação, que seria primordialmente universal e natural. Neste caso, o princípio protestante é fundamental no desenvolvimento do diálogo inter-religioso, principalmente por representar um valor iconoclasta de combater qualquer ameaça de idolatria entre as religiões. Nenhuma fé deveria ter o direito de excluir ou desconsiderar as outras manifestações religiosas, já que são congêneres e possuem o mesmo nascedouro existencial. O papel do princípio protestante é evitar a pretensão de cadeiras mais altas em uma mesa ecumênica, cujos membros precisam também praticar o espírito crítico dentro de seus respectivos âmbitos. Qualquer elevação de um aspecto da religião a um patamar de particularidade deve ser compreendida como um perigo idólatra. Por isso, deve ser um princípio protestar contra qualquer risco de uma exacerbação da substância católica — razão pela qual é protestante —, bem como de uma não consideração desta substância em decorrência da incapacidade de uma religião reconhecer como universais todas as outras religiões.
A rigor, levados até às últimas conseqüências, a substância católica e o princípio protestante não devem ser vistos como conceitos isolados, mormente por serem interdependentes. De um lado, a substância católica ao extremo poderia resultar em campo fértil para uma inevitável idolatria universal, onde todas as religiões poderiam ser entendidas como essencialmente corretas somente pelo fato de serem expressões de fé, gerando uma falta de crítica entre elas. De outro lado, o princípio protestante assumido única e radicalmente destrói toda propensão humana ao fenômeno religioso, levando conseqüentemente a um mero ateísmo ou frio moralismo. Por esta razão, a substância católica e o princípio protestante necessitam ser entendidos e praticados, no âmbito do encontro das religiões, em uma relação de interdependência. A conjunção “e” não deve ser abandonada, por ser o representante semântico dessa necessidade de coexistência de ambos os conceitos.

Extraído do Blog de Felipe Fanuel

sábado, 13 de junho de 2009

Karl Barth, a Bíblia e os seus erros

“A Bíblia contém erros, mas a nós nos cumpre crer nela assim mesmo” FS citando Karl Barth

Todos nós estamos cansados de saber que a Bíblia contém seus errinhos. Claro que não assumimos isso assim tão abertamente. Ao contrário, usamos de sofismas. Empregamos algumas adjetivos para qualificar a versão da Bíblia mais atual, sem com isso diminuir a versão anterior. Aqui vai uma lista desses adjetivos e o que eles significam em relação às outras traduções ou versões bíblicas:

Essa versão é: As demais são:
Corrigida Cheias de erros grandes
Atualizada Desatualizada
Revista Cheia de erros pequenos
De acordo com os melhores textos De acordo com os piores textos
Na linguagem de hoje Na linguagem de ontem
Nova Arcaica
Viva Morta

terça-feira, 26 de maio de 2009

Martin Heidegger

image “Heidegger firmou tudo nesta espécie de ansiedade básica. Portanto, os termos por que se expressa andar superior não fazem diferença alguma.” FS

Pessoalmente, eu acho esclarecedor o
relato de Bernard Welte (filósofo, padre da Arquidiocese de Freiburg, antigo estudante que se tornou amigo do velho Heidegger) que narra o que eu tomo por ser a palavra final de Heidegger sobre o assunto. Em fevereiro de 1976, Heidegger, ciente de que estava morrendo, pediu a Welte para que proferisse um curto sermão no seu funeral. Desconcertado, Welte protestou
que durante o passar dos anos, Heidegger deixou claro não ser uma pessoa crente, que seu pensamento, quando muito, seria ateísta (isto é, sobre Ser, e não sobre Deus) em essência.
“Mas eu nunca deixei {formalmente} a Igreja”, respondeu Heidegger. Finalmente consentindo, Welte perguntou ao velho Mestre sobre o que ele gostaria que ele falasse – qual texto
da escritura, por exemplo, ele pensava ser apropriado para se meditar sobre. Heidegger respondeu: “Peça e receberá,
procure e encontrará, bata, e a porta se abrirá para você” (Lucas 11:9).

William Richardson

terça-feira, 14 de abril de 2009

A duvidosa tese principal

Mais uma vez FS expõe a tese principal de seu livro “A morte da Razão”, a saber que o homem moderno, diferentemente do homem de outras épocas, “matou a razão”, eliminando-a por completo dos aspectos transcendentes de sua existência.

“O que faz do indivíduo um homem tipicamente moderno é a existência desta dicotomia […] É isto que separa e distingue o homem moderno, por um lado, do homem da Renascença, que alimentava a esperança de uma unidade humanista e, de outro lado, do homem da Reforma que possuía na realidade uma unidade racional acima e abaixo da linha com base no conteúdo da revelação bíblica.”

Infelizmente essa ilusão de FS de que a Bíblia ofereça uma unidade racional é contradita pela história eclesiástica e pela  própria Bíblia conforme os versículos abaixo:

Pv 3:5 Confia no SENHOR de todo o teu coração, e não te estribes no teu próprio entendimento.

1Co 1:18 Porque a palavra da cruz é loucura para os que perecem; mas para nós, que somos salvos, é o poder de Deus.

1Co 3:19 Porque a sabedoria deste mundo é loucura diante de Deus; pois está escrito: Ele apanha os sábios na sua própria astúcia.

Lc 10:21 Naquela mesma hora se alegrou Jesus no Espírito Santo, e disse: Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, que escondeste estas coisas aos sábios e inteligentes, e as revelaste às criancinhas; assim é, ó Pai, porque assim te aprouve.

Tudo isso nos leva a crer que os filósofos existencialista e conseguintemente o homem moderno teriam razão de duvidarem da razão em se tratando de experiências transcendentais.

Ali na dicotomia não se encontraria portanto a resposta para o problema levantado por Francis Schaeffer.

quinta-feira, 26 de março de 2009

Camus (1913-1960)

“Assim, ainda que a revolta, como bem mostrou A. Camus, seja uma aspiração à liberdade, o que lhe confere nobreza e caráter humano não é a liberdade. Pode-se ser escravo da revolta, seja ela aberta ou surda, expressa ou reprimida. A psicologia há de fazer passar da revolta escondida à revolta vivencial, o que já é por si mesmo mais sadio e mais autêntico. Só a experiência espiritual pode libertar da falsa submissão e da rebeldia, pela tomada de consciência de nossas próprias responsabilidades.” Paul Tournier

segunda-feira, 16 de março de 2009

Onde está afinal o absurdo?

“De Kierkegaard procedem duas extensões – o existencialismo secular e o existencialismo religioso. O existencialismo secular se divide em três correntes principais representadas por: Jean-Paul Sartre (nascido em 1905) e Camus (1913-1960) na França, Jaspers (nascido em 1883) na Suíça, Heidegger (nascido em 1889) na Alemanha.

Em primeiro lugar, Jean-Paul Sartre. Racionalmente, o universo é absurdo e o homem deve buscar autenticar-se a si mesmo. Como? Mediante um ato da vontade. Assim, se você estiver andando de carro pela rua e avistar alguém na calçada sob forte chuva, você para o carro, apanha a pessoa e lhe dá uma carona. É absurdo. Que importa? A pessoa nada é, mas você se autenticou mediante um ato da vontade. A dificuldade, entretanto, é que a autenticação não tem conteúdo racional ou lógico – todas as direções de um ato da vontade são iguais. Portanto, de maneira semelhante, se você está dirigindo numa rua e avista o homem na chuva, e acelera o carro e o atropela, você autenticou sua vontade, na mesma medida. Entendeu? Assim, pranteie pelo homem moderno posto em situação tão desesperançosa.”  F.S.

Será que todos nossos atos seriam assim tão racionais como FS supõe? Será que as nossas racionalidades não seriam, muitas das vezes, meros artifícios para justificarem nossas próprias vontades? Temo que Sartre esteja correto e Schaeffer, errado.

quarta-feira, 11 de março de 2009

O Salto

image “Abraão não tem saída a não ser pelo salto do ético ao religioso. Em outros termos, Abraão deve saltar para a fé, aceitando o absurdo da exigência divina e concordando com uma suspensão do ético, em favor do religioso. Em tais situações críticas, a escolha que o indivíduo sente-se obrigado a fazer independe de quaisquer critérios racionais, isto é, as regras gerais e universais não podem ajudá-lo. Apesar disso, segundo Kierkegaard, existem algumas experiências, à margem do ético e do religioso, que podem servir de indicação, uma delas é o desespero, outra é a ansiedade.”

vida e obra de Kierkegaard em Os Pensadores

Pensando no salto de Kierkegaard e nos meus próprios saltos que a vida me obrigou a dar e considerando ainda o último comentário da Márcia, sou levado a crer que boa parte da parafernália evangélica está montada, de fato, para forçar um salto ao inverso: fazer que por meio do desespero ou da ansiedade “o crente” pule do religioso de volta ao ético. É um salto de contra fé. É a produção em série e em massa de bons fariseus e péssimos cristãos (se é que se pode ainda assim ser denominados). Desse mal, pelo menos, os chamados “cristãos nominais” estão protegidos.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Ele atacava Soreen Kierkergaard

Por que alguns setores mais conservadores demonizam autores como Kierkegaard e Bonhoeffer? Será que não podemos aprender com eles?
Claro que podemos. E esta é uma área em que Schaeffer exagerou um pouco e fez muito estrago. Ele atacava Soreen Kierkergaard ou Karl Barth por causa de algo particular na sua posição geral – e isso foi um erro. E aí ele dispensava todo o conteúdo do autor, o que é perigoso. Kierkergaard pode ter coisas que não concordamos, como o seu salto de fé, que é muito subjetivo. Mas devemos lembrar que ele atacava a religião seca e abstrata de seu tempo. A mesma coisa é verdade em Bonhoeffer, Barth e outros. A igreja nos seus primórdios, tinha uma pequena frase que dizia: “Toda a verdade é a verdade de Deus”. Então devemos ser os primeiros a reconhecer a verdade. É claro que se um irmão cristão estiver certo, como Kierkergaard, devemos rapidamente reconhecer seu lado certo, não focar sua fraqueza. Mas devemos fazê-lo com discernimento.

Trecho de Entrevista com Os Guinness – Cristianismo Hoje

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Hegel (1770-1831)

“Ao afirmar que a razão é histórica, Hegel não está, de modo algum, dizendo que a razão é algo relativo, que vale hoje e não vale amanhã, que serve aqui e não serve ali, que cada época não alcança verdades universais. Não. O que Hegel está dizendo é que a mudança, a transformação da razão e de seus conteúdos é obra racional da própria razão. A razão não é uma vítima do tempo, que lhe roubaria a verdade, a universalidade, a necessidade. A razão não está na História; ela é a História. A razão não está no tempo; ela é o tempo. Ela dá sentido ao tempo.” Marilena Chauí em Convite à Filosofia

Pensemos em duas pessoas discutindo sobre a cor das nuvens em um dia de céu nublado. Uma diz está branco, a outra, não, é preto. Chega uma terceira e diz, você tem uma tese: branco, e você uma antítese: preto, mas a verdade é que o céu está cinza que é a síntese da opinião de vocês dois. Essa é a teoria de Hegel a grosso modo. Por isso FS afirmou:

“O efeito a longo prazo desta nova forma de abordagem proposta por Hegel tem sido que os cristãos da atualidade não entendem seus filhos.”

De fato os pais daquela década, criados em sistemas conservadores, assim como a ala conservadora evangélica só conseguem pensar em um sistema bipolar de preto ou branco. Não existe nada mais ofensivo para eles do que um meio termo ou algo que é por natureza relativo. Por outro lado, as novas gerações que estão abertas para novas perspectivas que perceberam que um mundo globalizado exige maior flexibilidade, e mais do que isso que perceberam que certos valores e crenças são mesmo negociáveis, estão mais dispostos a não fecharem questão sobre determinados assuntos. FS está correto isso causa um conflito de gerações.

Marilena Chauí, porém nos faz lembrar que Hegel contribuiu muito para o avanço da filosofia com sua tese, ainda que ela possua pontos fracos. Nossa razão possui uma herança histórica que merece ser estudada e entendida.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Immanuel Kant

Pv 3:5b  …não te estribes no teu próprio entendimento.

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O fato é que FS, em “a morte da razão”, não está preocupado em fazer uma análise mais profunda de nada nem de ninguém.

Ele tem uma teoria, que é criticar o pensamento moderno, e passa rapidamente pela história criticando pontos aqui e acolá ao longo de séculos para dar base à sua tese. Assim ele finca pé na reforma protestante e no cristianismo primitivo. Sendo que quase tudo que fugiu destes dois padrões é condenável.

Isso torna a obra pobre. Paralelamente venho lendo outro livro de FS, então como nós viveremos, que já trás uma análise mais detalhada, e mais equilibrada, pois foi escrita alguns anos mais tarde.

Sobre Kant por exemplo ele se limita a dizer que,

“O sistema de Kant se rompeu de encontro ao rochedo da tentativa de descobrir uma fórmula, qualquer fórmula, para se estabelecer uma adequada relação entre o mundo fenomenal da natureza e o mundo numenal dos universais.”

De fato é em Kant que FS vê o “assassínio” da razão, pois a obra mais conhecida de Kant é "Crítica da razão pura".

Kant apenas retirou do centro as fórmulas racionalistas (normalmente impostas através de dogmas e coerção das mais variadas formas) e trouxe a razão como sujeito para o meio do debate.

“Comecemos, então, pelo sujeito do conhecimento. E comecemos mostrando que este sujeito é a razão universal e não uma subjetividade pessoal e psicológica…” (Chauí)

Na verdade todo filósofo que se preze, e Kant é um deles, está de acordo com pelo menos a segunda parte do verso 5 de provérbios 3. Duvide de sua própria razão! Questione! Investigue, pare pense um pouco mais em suas próprias convicções não se satisfaça com respostas fáceis do seu próprio intelecto. Embora esse exercício possa parecer uma contradição em si mesmo, não é, pois o filósofo sempre nos mandará para um conhecimento mais além, a uma perspectiva que não havíamos pensado antes.

A primeira parte do versículo é fundamental, confiar em Deus de todo coração. É onde a filosofia encontra sua fronteira (ainda que momentânea) e a religião, a fé se inicia, e a alma encontra paz.

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sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

A grande inovação de Rousseau

“A grande inovação introduzida pelo estilo literário de Rousseau remonta à poderosa necessidade de reencontrar a transparência perdida: Ele tenta descrever a si mesmo “de acordo com a natureza” e isso acontece pela primeira vez na história; ele diz “eu” dirige-se a seus leitores como “você” em sua franqueza ele procura apaixonadamente restaurar esse relacionamento pessoal “eu e tu”.

Paul Tournier em L’homme et son Lieu.

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quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Relativismo X Verdade absoluta.

Meu comentário no Post Relativismo, Certeza e Agnosticismo em Teologia de Augustus Nicodemus.

Começarei pelo finalzinho: sem dúvida o respeito seu e de qualquer pessoa vale alguma coisa. Respeito não significa concordância e é uma das bases da tolerância que a sociedade pluralista relativista de hoje exige.

Li todo o texto e haveria vários pontos a serem levantados, mas me limitarei a poucos:

1) Não existiria somente uma, a verdade absoluta, que é o Verbo que se fez carne?

2) Portanto não estariam todas as outras coisas (e a percepção delas) a priori relativas ou subordinadas a essa Verdade?

3) Se são relativas não perderiam então seu caráter absoluto? Assim até mesmo no campo ético não foi Ele quem enfatizou a maior importância daquilo que é subjetivo sobre o que é objetivo e evidente?

Assim as teologias são de fato relativas, e marcos antigos não ajudam muito aos aventureiros. E explorar esse oceano que ainda não foi navegado é a proposta de nosso novo Blog, Teologia Livre.

Nosso (e penso que vosso também) problema está em que queremos valorizar mais o resultado da descoberta teológica do que o processo do descobrimento. Mas ambos são importantes. Os debates dos primeiros séculos sobre a trindade, se desenrolados hoje teriam outros elementos, outro tempero. Ainda que os resultados sejam semelhantes nunca seriam os mesmos! Aliás, nem sei se o termo debate caberia hoje. Mas nada impede que hoje a questão da trindade aflore no coração de indivíduos, em seu contato com o mundo islâmico, por exemplo, e isso leve a novas perspectivas da pessoa, natureza e substância divinas.

Finalizando digo que sua postura pode parecer bem com a escola cristã de Alexandria, ao platonismo, que busca as idéias imutáveis e as verdades eternas. Por outro lado os “progressistas” lembrariam a escola de Antioquia que queriam uma coisa mais aplicada à realidade histórica. Mas quanta distância, temporal, geográfica, cultural disto tudo...

Não. Você é um dos principais formadores de opinião no Brasil (cristão evangélico) seu respeito vale alguma coisa sim.

Resolvi postar hoje esse comentário pois é de cunho filosófico que é de certa forma o motivo do livro a morte da razão e desse espaço.

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Breve recapitulação

Antes de adentrarmos em Imanuel Kant preciso fazer uma breve recapitulação:

Começamos examinando algumas obras de arte onde Schaeffer tenta mostrar que havia maior ênfase na “Graça”, por não haver tanta técnica e pelo fato da natureza não ser retratada com fidlidade.

Com o avanço das artes e suas técnicas FS diz que a graça foi devorada pela natureza que ele chama comicamente de o andar de baixo.

O marco perseguido por FS (o qual também mantemos em foco) está em Tomás de Aquino. Para Schaeffer ele deu início ao secularismo ao separar filosoficamente a natureza da graça. Ali o homem, para FS, começou a se tornar autônomo.

Passamos então pela renascença, pela reforma e pelo iluminismo. E chegamos á revolução francesa.

Um interesse que tenho é chegar ao filósofo dinamarquês Kierkegaard.

Nos encontramos então agora com a afirmativa de FS:

“Enquanto os homens haviam previamente falado de natureza e graça, a esta altura já não mais restava qualquer idéia de graça – o termo não mais se encaixava. O racionalismo estava já agora bem desenvolvido e entrincheirado; nenhum conceito de revelação subsistia em qualquer área. Consequentemente o problema se definia agora não em termos de “natureza e graça”, mas de “natureza e liberdade”.”

De fato essas afirmativas são radicais de mais para serem levadas a sério: não mais restava qualquer idéia de graça… nenhum conceito de revelação subsistia…

Basta olharmos outros autores da época para ver que há algo de errado nesse radicalismo.