sexta-feira, 31 de outubro de 2008

O problema está na palavra somente

image Aos fundamentalistas evangélicos ele [Jürgen Moltmann] recomendou que “lessem e estudassem melhor a Bíblia, deixando-se tocar pela mensagem e olhando para o sofrimento à sua volta”. Enfático, lamentou que cristãos protestantes estivessem lendo as Escrituras como os maometanos lêem o Corão e “lembrou que o Deus mostrado na Bíblia não se revelou num livro, mas num ser humano, Jesus Cristo!” (fonte Ultimato)

"Os evangélicos devem observar, neste ponto, que a Reforma afirmou “a Escritora somente”, e não “a Revelação de Deus em Cristo somente”. Francis Schaeffer

Não estaria o problema na palavra "somente"?

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

A reforma

image

Quase todos nós conhecemos a história do alemão que combateu a venda de Indulgência e traduziu a Bíblia para ao alemão.

O papel de Martinho Lutero na história é inquestionável. Sua contribuição para o cristianismo foi preciosa. Francis Schaeffer está corretíssimo ao evocar os valores da reforma como “respostas” válidas, necessárias e verdadeiras à crise de valores e filosófica enfrentada pela igreja e sociedade européia naquela época.

As perguntas, todavia, que faço nesse segundo capítulo são:

1) Se a reforma depositou a autoridade final na Bíblia (o que é correto) isso só indica que ela tirou autoridade da igreja como instituição e a depositou nas mãos dos indivíduos. Ou seja, a interpretação da Bíblia caberia não somente à cúpula aos clérigos, mas ao conjunto de fiéis e também aos leigos. Cada indivíduo que interprete aquilo que lhe bem apraz. E cada um dará conta de si mesmo. Será então que o elemento humanístico não permaneceria bem presente (ou até mesmo mais forte), só que o que antes era feito de forma institucional e coletivo, agora se faria de forma individual e informal?

2) Ainda que FS interprete, então, a reforma como um levante contra o humanismo, não seria isso apenas sua própria interpretação, pois as questões envolvidas na época eram completamente outras (religiosas, políticas, sociais) e menos filosóficas?

3) Até que ponto o intelecto e a vontade do homem estão totalmente caídos e inoperantes e até que ponto eles guardam a imagem do criador e seriam ainda capazes e até mesmo desafiados a agirem em prol da salvação? Ou em outras palavras, até que ponto seriam as mãos da fé de fato elevadas vazias?

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Da Vinci, aulas de filosofia e Universais

401px-Mona_Lisa Leonardo da Vinci é uma figura legendária. Por trás dessa pessoa se encontram muitas histórias, algumas das quais não se sabe ao certo o que é verdade e o que é pura invenção.

Em "a morte da razão" FS evoca Da Vinci para reforçar sua tese de separação do andar de baixo do de cima.

Sob o meu ponto de vista, Schaeffer consegue provar em Leonardo a reunião destes dois andares e não a separação deles. Leonardo foi um homem cósmico que se ocupou com várias áreas do saber, ou seja com os princípios universais, mas também com os detalhes, com os particulares.

Schaeffer coloca no andar de cima os universais e embaixo os particulares. Mas essa não é uma separação no modo de pensar de uma época e nem característica do homem moderno.

Me lembro das aulas de filosofia em Lavras, quando nosso professor nos espliclava expliclava a diferença entre análise e síntese: análise é partir do todo para as partes (do universal para os particulares) e síntese é partir das partes para o todo. Nesses dois métodos de lógica, ou de pensar, não há nenhuma contradição ou abuso da natureza sobre a graça.

Podemos partir de nosso corpo humano e chegar em diferentes órgãos, assim como podemos partir dos órgãos em separado e chegar ao corpo.

O mérito de Schaeffer é todavia refletir sobre esse anelo da alma humana, do seu interesse, em resolver esse aparente paradoxo: unidade X multiplicidade. Em seu livro "O Deus que se revela" ele trata muito bem desta questão metafísica e aponta a solução lógica através de um Deus que é tri-uno.

Assim encerramos o primeiro capítulo e entraremos a seguir na reforma protestante.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Rafael

458px-Sanzio_01_Plato_Aristotle

"Em A Escola de Atenas Rafael retrata a diferença entre o elemento aristotélico e o platônico. Os dois filósofos ocupam o centro do quadro, Aristóteles com as mãos voltadas para o chão, Platão a apontar para o alto.

Este problema pode-se expressar de outra forma. Onde encontrar a unidade depois de conceder plena liberdade à diversidade? Se são libertadas, de que modo conservá-las num todo uno?"

O problema colocado desta forma, neste último parágrafo, por Francis Schaeffer fica sem sintido algum: "Se são libertadas...", o que são libertadas? Quando foram libertadas? Seria a libertação da diversidade frente a unidade?

FS começa dizendo que Tomás de Aquino separou a Graça da Natureza. E que Arístoteles seria o pensador por trás desta idéia. Agora ele chega com Platão, através de Rafael e Leonardo da Vinci, para explicar uma suposta necessidade de voltar ao "andar de cima" (idéia que veremos mais adiante).

O ponto é: tanto Platão como Arístoteles não eram cristãos, nem tinham a fé judia. Obviamente não teriam a compreenção que temos de um Deus triuno. Nem só por isso iremos desprezar toda a filosofia.

Nema a filosofia teria essa força de romper com a realidade de que o andar de cima está conectado com o de baixo. A natureza nunca se tornará autônoma! E nem devorará a graça! Ainda que a arte tente fazer isso de forma artificial e inventada. Ainda que venha o anticristo. O máximo que foi feito e poderia ser feito nessa direção foi a crucificação de nosso Senhor. E Deus usou deste ato de desgraça para trazer-nos salvação.

Tanto a diversidade (no andar de baixo) como a unidade (no andar de cima) andarão sempre de mãos juntas. Deus é o princípio único, criador de todas as coisas, mas também o fim. A criação (natureza) estará sempre anunciando a sua grandeza (de qualquer forma que for retratada). Deus estará sempre livre como o vento para soprar onde quiser.

Pode-se retratar o que quiser, expressar o que quiser. O que for sacrilégio, será interpretado com tal. Mas não significará nada novo além dos sacrilégios que sempre houveram.

Assim até agora não fez sentido nenhum a tese de FS de estabelecer o pensamento aristotélico através de Aquino com marco para o homem moderno. E o fenômeno de secularização da europa e outros movimentos relativos à fé no ocidente devem ser encarados através de outros modelos mais válidos.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

O ponto a acentuar-se

Agora que vai finalizando o primeiro capítulo FS nos apresenta um resumo daquilo que estava dizendo durante todo o capítulo através de sua análise das obras de artes:

"O ponto a acentuar-se é que a natureza, uma vez tratada como coisa autônoma, reveste-se de caráter destrutivo. Tão logo se estabelece esse reino autônomo verifica-se que o elemento inferior começa a corroer o superior."

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

A amante do rei

imageFouquet pinta a virgem Maria com um dos seios a mostra e usa como modelo a amante do rei, Agnès Sorel.

Esta pintura considerada a obra prima de Fouquet é chamada de Díptico de Melun. A Wikipedia versão em alemão nos oferece duas informações interessantes sobre essa obra:

1. Provavelmente trata-se de uma lenda que a modelo tenha sido a amante do Rei.

2.Ainda que tenha sido a amante do rei ou que ela tenha um seio exposto, a pintura não era considerada uma heresia na época, pois Maria "amamentando" era já um tema antigo e Agnes Sorel era muito querida na França.

A pergunta é, será que como FS afirma, essa pintura significaria a morte da graça? Não seria antes um julgamento pessoal de FS em função de seus próprios critérios (sagrado x seio x amante)?

O que penso é que a arte imita a vida real. Adultérios e seios acompanham a humanidade e são descritos também na Bíblia. Eles não aparecem na pessoa de Maria, mas em seus ancestrais como Davi, Judá e tantos outros. Nem só por isso poderíamos dizer que a graça foi morta.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Uma linda jovem com uma criança

image Francis Schaeffer continua com sua tese de que na medida que se representa a natureza de forma mais real a graça é devorada.

No quadro de Fillipo Lippi a jóvem que ser serviu de modelo para a Maria era a amante de Fillipo, fato que sem dúvida compremeteria o aspecto sacro daquela obra.

domingo, 12 de outubro de 2008

Masaccio

imageSegundo FS ele, Masaccio, abriu quase por completo a porta para a natureza. Mas por quê?

FS explica, pois ela pintava com exatidão a realidade...

Mas até que ponto este "humanismo", esta exatidão, este perfeccionismo, refletiria, de fato, um avançar da natureza em detrimento da graça? Seria a graça tão frágil assim? Não é a graça que super abundou onde o pecado abundava?

Hoje, acostumados com as fotografias, o cinema, e todas as formas sacralizada e profanas de artes não conseguimos enxergar que um simples movimento artístico na direção de se pintar com mais exatidão a realidade poderia ser um ataque à graça, ou um rompimento entre essa e a natureza.

Meu desejo é avançar logo nessa leitura e chegar a Kierkgaard e outros.

É também entender melhor o papel do Doutor de Aquino nisso tudo. E saber se FS teve ou não um posicionamento muito "puritano" alimentando o imaginário da direita fundamentalista americana e consequentemente da cristandade de nosso Planeta.

Fig: Adão e Eva Expulsos do Paraíso

sábado, 11 de outubro de 2008

A Madona do Chanceler Rolin

image Como ressaltei anteriormente essa análise de pinturas torna-se um pouco subjetiva. Até que ponto Maria, de fato, representa a graça divina?

Até que ponto a tentativa de representá-la de forma real e não simbólica expressa uma dessacralização? Até que ponto colocá-la ao lado de um Chanceler expressa vulgarização?

imageVemos que no icon do século VI outros santos são colocados ao lado de Maria, os quais também estão em posição de igualdade. Entendo, eles não são os patrocinadores da pintura, como no caso de Rolin. Mas isso poderia ser também entendido como uma maior aceitação da graça, como graça, do que como um abuso dela propriamente dito?

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Livro das horas e Van Eyck

00284701Na verdade queria passar logo para a parte mais filosófica do livro e sair dessa questão envolvendo artes e pintura.

Acho isso um pouco relativo e os argumentos de FS não me convencem nem um pouco. Por exemplo:

Sua análise de “as Grandes Horas de Rohan” (figuras ao lado) comparado-a com as pinturas de Van Eyck me parece, a princípio, como querer comparar as pinturas da renascença com as imagens digitalizadas de hoje ou fotografias e cinema. São técnicas diferentes e épocas diferentes movidas por tradições diferentes. O que não reflete necessariamente uma mudança na mentalidade da sociedade.

Como Schaeffer coloca, parece que os artistas, teólogos e filósofos estavam conspirando contra a graça. Penso diferente.

Por exemplo, a pintura do Batismo de Leonardo da Vinci, de quem FS irá tratar mais tarde, um renascentista, não se assemelha em nada à de Van Eyck. Neste há mais espaço para a natureza naquele EyckbaptismJesus e João Batista são pintados com técnicas mais modernas.

Não se pode concluir porém que por causa disso existiria uma avanço da natureza sobre a graça.

domingo, 5 de outubro de 2008

Natureza versus Graça

imageFrancis Schaeffer irá agora começar a demonstrar como a Natureza devorou a Graça a partir da Renascença.

A idéia seria mais ou menos o seguinte: inicialmente os povos bárbaros europeus não conheciam nada da Graça Divina, após sua cristianização e o domínio da Igreja Católica Romana eles permaneceram sobre o controle das autoridades eclesiásticas, então todo elemento “contrário” à Graça, ou até mesmo suspeito, era banido, condenado e “queimado em praça pública”. Até que a renascença deu um basta a isso!

Mas será que a renascença voi assim tão determinante nisso tudo? E essa briga entre "natureza" X "graça" só teve início tão tarde no século XV?

Podemos ver que antes de Constantino declarar o cristianismo como religião oficial, a Natureza já “devorava” literalmente a Graça, não nas artes ou filosofia, mas nas arenas e nos circos.

Após o cristianismo tornar-se religião oficial por volta dos séculos III e IV e daí por diante, o que veremos é a “natureza” e a “graça” começarem a conviver juntas na sociedade. Muitos cristãos, logo reagiram e decidiram sair do convívio pernicioso com aquele cristianismo light, e foram para o deserto, onde se deu início ao movimento Monástico. Que marcou a igreja por séculos e tem grande influência ainda hoje.

O Engraçado disso tudo

Quando penso no Brasil de hoje, onde os crentes já não são mais como eram antigamente, quando penso no pietismo, no puritanismo, ou num fundamentalismo americano onde existe uma lista de faça e não faça, quando penso na Europa liberal, me pergunto se as raízes de nossos problemas não continuam sendo as mesmas vividas por aquela gente do passado tão remoto? E se a melhor expressão desse conflito não se resumiria no medo dos extremos “graça barata” x “legalismo”?

Mais uma vez vivemos e repetimos a história. Se voltarmos ainda mais no tempo, às origens, ao útero do cristianismo, veremos que esse conflito é personificado em dois estilos de vida, em dois homens. Veremos que ele existe muito mais na cabeça dos não crentes do que no coração dos filhos da sabedoria.

"Porquanto veio João, não comendo nem bebendo, e dizem: Tem demônio. Veio o Filho do homem, comendo e bebendo, e dizem: Eis aí um homem comilão e beberrão, amigo dos publicanos e pecadores. Mas a sabedoria é justificada por seus filhos". Mt 11: 18-19

Fig.Andrea del Verrocchio and Leonardo da Vinci. The Baptism of Christ. Detail, beleived to be painted by Leonardo. c.1472-1475. Oil and tempera on wood. Uffizi Gallery, Florence, Italy.

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Então como viveremos - Parte I

Nesta primeira parte do vídeo (em inglês) Schaeffer irá voltar à cultura do império romano, destacando que essa é o berço de nossa cultura ocidental. Ele quer mostrar que a religião e os valores filosóficos dela derivados são o sustentáculo de qualquer sociedade ou nação.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

¿Qué tiene que ver Atenas con Jerusalén?

image "Puesto que se les acusaba de ser gente bárbara e inculta, los cristianos del siglo segundo se vieron obligados a discutir la cuestión de las relaciones entre su fe y la cultura pagana. (...) Esa cultura incluía la obra y el pensamiento de sabios tales como Platón, Aristóteles y los estoicos, cuya sabiduría ha recibido la admiración de muchos hasta nuestros días. Rechazarla equivalía a rechazar mucho de lo mejor que el espíritu humano había producido. Aceptarla podría aparecer como una concesión al paganismo y como el comienzo de una nueva idolatría."

Justo L. Gonzalez em Uma história Ilustrada do Cistianismo - A Era dos Mártires

Chamo a atenção para este texto acima para lembrar que houve sempre na história da igreja esse conflito entre absorver ou não a filosofia clássica. E não foi somente com Tomás de Aquino que Aristóteles (fig.) e suas idéias abriram caminho no seio da igreja, sociedade cristã ou européia.

O princípio vital

"Tal interesse pela natureza como Deus a criou é, como já vimos, bom e apropriado. Tomás de Aquino, porém, havia aberto caminho a um Humanismo Autônomo, uma filosofia autônoma e, tão logo o movimento adquiriu força, a tendência se tornou um verdadeiro dilúvio.

O princípio vital a notar-se é que, à medida que a natureza se fazia autônoma, passava a ”devorar” a graça."

Essas afirmações de FS tem que ser ponderadas de modo a saber:

  1. Aquino abre caminho onde?
  2. Será que esta filosofia autônoma já não existia e rondava o cristianismo desde os seus primórdios?
  3. Será que a natureza tem esse poder de devorar a graça? Ou será que antes ela não ajuda na revelação da graça?

FS diz que o grande problema daquela época era trocarem a autoridade das escrituras, pela autoridade da igreja. Bem sabemos que as ecrituras terá a doutrina que a igreja quiser que tenha... então clamar pela sua autoridade por si só, pode ser traduzido em farisaísmo e legalismo. Por outro lado a igreja também cai no mesmo problema com seus dogmas.

Então pra mim não resta dúvida que o renascimento da humanidade, ainda que tivesse seus viéis foi um importante passo de amadurecimento na fé. O princípio vital é que, para nós que cremos, a natureza nunca será autônoma. Para quem não crê, a natureza só pode ser útil, apontando sempre para Deus, o seu Criador. Um exame do homem, da natureza, da criação irá indubitavelmente apontar para Deus. E parece que Aquino ajudou nisso.