quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Hegel (1770-1831)

“Ao afirmar que a razão é histórica, Hegel não está, de modo algum, dizendo que a razão é algo relativo, que vale hoje e não vale amanhã, que serve aqui e não serve ali, que cada época não alcança verdades universais. Não. O que Hegel está dizendo é que a mudança, a transformação da razão e de seus conteúdos é obra racional da própria razão. A razão não é uma vítima do tempo, que lhe roubaria a verdade, a universalidade, a necessidade. A razão não está na História; ela é a História. A razão não está no tempo; ela é o tempo. Ela dá sentido ao tempo.” Marilena Chauí em Convite à Filosofia

Pensemos em duas pessoas discutindo sobre a cor das nuvens em um dia de céu nublado. Uma diz está branco, a outra, não, é preto. Chega uma terceira e diz, você tem uma tese: branco, e você uma antítese: preto, mas a verdade é que o céu está cinza que é a síntese da opinião de vocês dois. Essa é a teoria de Hegel a grosso modo. Por isso FS afirmou:

“O efeito a longo prazo desta nova forma de abordagem proposta por Hegel tem sido que os cristãos da atualidade não entendem seus filhos.”

De fato os pais daquela década, criados em sistemas conservadores, assim como a ala conservadora evangélica só conseguem pensar em um sistema bipolar de preto ou branco. Não existe nada mais ofensivo para eles do que um meio termo ou algo que é por natureza relativo. Por outro lado, as novas gerações que estão abertas para novas perspectivas que perceberam que um mundo globalizado exige maior flexibilidade, e mais do que isso que perceberam que certos valores e crenças são mesmo negociáveis, estão mais dispostos a não fecharem questão sobre determinados assuntos. FS está correto isso causa um conflito de gerações.

Marilena Chauí, porém nos faz lembrar que Hegel contribuiu muito para o avanço da filosofia com sua tese, ainda que ela possua pontos fracos. Nossa razão possui uma herança histórica que merece ser estudada e entendida.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Immanuel Kant

Pv 3:5b  …não te estribes no teu próprio entendimento.

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O fato é que FS, em “a morte da razão”, não está preocupado em fazer uma análise mais profunda de nada nem de ninguém.

Ele tem uma teoria, que é criticar o pensamento moderno, e passa rapidamente pela história criticando pontos aqui e acolá ao longo de séculos para dar base à sua tese. Assim ele finca pé na reforma protestante e no cristianismo primitivo. Sendo que quase tudo que fugiu destes dois padrões é condenável.

Isso torna a obra pobre. Paralelamente venho lendo outro livro de FS, então como nós viveremos, que já trás uma análise mais detalhada, e mais equilibrada, pois foi escrita alguns anos mais tarde.

Sobre Kant por exemplo ele se limita a dizer que,

“O sistema de Kant se rompeu de encontro ao rochedo da tentativa de descobrir uma fórmula, qualquer fórmula, para se estabelecer uma adequada relação entre o mundo fenomenal da natureza e o mundo numenal dos universais.”

De fato é em Kant que FS vê o “assassínio” da razão, pois a obra mais conhecida de Kant é "Crítica da razão pura".

Kant apenas retirou do centro as fórmulas racionalistas (normalmente impostas através de dogmas e coerção das mais variadas formas) e trouxe a razão como sujeito para o meio do debate.

“Comecemos, então, pelo sujeito do conhecimento. E comecemos mostrando que este sujeito é a razão universal e não uma subjetividade pessoal e psicológica…” (Chauí)

Na verdade todo filósofo que se preze, e Kant é um deles, está de acordo com pelo menos a segunda parte do verso 5 de provérbios 3. Duvide de sua própria razão! Questione! Investigue, pare pense um pouco mais em suas próprias convicções não se satisfaça com respostas fáceis do seu próprio intelecto. Embora esse exercício possa parecer uma contradição em si mesmo, não é, pois o filósofo sempre nos mandará para um conhecimento mais além, a uma perspectiva que não havíamos pensado antes.

A primeira parte do versículo é fundamental, confiar em Deus de todo coração. É onde a filosofia encontra sua fronteira (ainda que momentânea) e a religião, a fé se inicia, e a alma encontra paz.

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sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

A grande inovação de Rousseau

“A grande inovação introduzida pelo estilo literário de Rousseau remonta à poderosa necessidade de reencontrar a transparência perdida: Ele tenta descrever a si mesmo “de acordo com a natureza” e isso acontece pela primeira vez na história; ele diz “eu” dirige-se a seus leitores como “você” em sua franqueza ele procura apaixonadamente restaurar esse relacionamento pessoal “eu e tu”.

Paul Tournier em L’homme et son Lieu.

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quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Relativismo X Verdade absoluta.

Meu comentário no Post Relativismo, Certeza e Agnosticismo em Teologia de Augustus Nicodemus.

Começarei pelo finalzinho: sem dúvida o respeito seu e de qualquer pessoa vale alguma coisa. Respeito não significa concordância e é uma das bases da tolerância que a sociedade pluralista relativista de hoje exige.

Li todo o texto e haveria vários pontos a serem levantados, mas me limitarei a poucos:

1) Não existiria somente uma, a verdade absoluta, que é o Verbo que se fez carne?

2) Portanto não estariam todas as outras coisas (e a percepção delas) a priori relativas ou subordinadas a essa Verdade?

3) Se são relativas não perderiam então seu caráter absoluto? Assim até mesmo no campo ético não foi Ele quem enfatizou a maior importância daquilo que é subjetivo sobre o que é objetivo e evidente?

Assim as teologias são de fato relativas, e marcos antigos não ajudam muito aos aventureiros. E explorar esse oceano que ainda não foi navegado é a proposta de nosso novo Blog, Teologia Livre.

Nosso (e penso que vosso também) problema está em que queremos valorizar mais o resultado da descoberta teológica do que o processo do descobrimento. Mas ambos são importantes. Os debates dos primeiros séculos sobre a trindade, se desenrolados hoje teriam outros elementos, outro tempero. Ainda que os resultados sejam semelhantes nunca seriam os mesmos! Aliás, nem sei se o termo debate caberia hoje. Mas nada impede que hoje a questão da trindade aflore no coração de indivíduos, em seu contato com o mundo islâmico, por exemplo, e isso leve a novas perspectivas da pessoa, natureza e substância divinas.

Finalizando digo que sua postura pode parecer bem com a escola cristã de Alexandria, ao platonismo, que busca as idéias imutáveis e as verdades eternas. Por outro lado os “progressistas” lembrariam a escola de Antioquia que queriam uma coisa mais aplicada à realidade histórica. Mas quanta distância, temporal, geográfica, cultural disto tudo...

Não. Você é um dos principais formadores de opinião no Brasil (cristão evangélico) seu respeito vale alguma coisa sim.

Resolvi postar hoje esse comentário pois é de cunho filosófico que é de certa forma o motivo do livro a morte da razão e desse espaço.

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Breve recapitulação

Antes de adentrarmos em Imanuel Kant preciso fazer uma breve recapitulação:

Começamos examinando algumas obras de arte onde Schaeffer tenta mostrar que havia maior ênfase na “Graça”, por não haver tanta técnica e pelo fato da natureza não ser retratada com fidlidade.

Com o avanço das artes e suas técnicas FS diz que a graça foi devorada pela natureza que ele chama comicamente de o andar de baixo.

O marco perseguido por FS (o qual também mantemos em foco) está em Tomás de Aquino. Para Schaeffer ele deu início ao secularismo ao separar filosoficamente a natureza da graça. Ali o homem, para FS, começou a se tornar autônomo.

Passamos então pela renascença, pela reforma e pelo iluminismo. E chegamos á revolução francesa.

Um interesse que tenho é chegar ao filósofo dinamarquês Kierkegaard.

Nos encontramos então agora com a afirmativa de FS:

“Enquanto os homens haviam previamente falado de natureza e graça, a esta altura já não mais restava qualquer idéia de graça – o termo não mais se encaixava. O racionalismo estava já agora bem desenvolvido e entrincheirado; nenhum conceito de revelação subsistia em qualquer área. Consequentemente o problema se definia agora não em termos de “natureza e graça”, mas de “natureza e liberdade”.”

De fato essas afirmativas são radicais de mais para serem levadas a sério: não mais restava qualquer idéia de graça… nenhum conceito de revelação subsistia…

Basta olharmos outros autores da época para ver que há algo de errado nesse radicalismo.